A Maria conheceu o João há cerca de um mês. Trocaram mensagens dum desses sites onde escancaramos, para todos os que querem ver, as nossas vidinhas mais ou menos desinteressantes.
Passados uns dias, a conversa passou para o Messenger e outros tantos dias depois lá resolveram se encontrar.
“E se ele num gostar de mim?”
“Mas vocês não falam já há muito tempo na net?”
“Falamos… mas depois ao vivo pode num ser a mesma coisa…”
“És mesmo croma… quem é que não gosta de ti, hã? Fogo Maria, também se não gostar voltas a dar umas voltas na net e daqui a uns dias já andas assim por outro…”
Grande verdade! Este não é o primeiro tipo que a Maria conhece assim. Já houve o Marco, o Hugo, o Luís… Uma série de engatatões que descobriram na net uma nova maneira de arranjar raparigas.
Claro que o primeiro encontro é sempre um stress. Ela liga-me mal começa o namoro virtual e depois tenho de acompanhar o desenrolar da história até ao fim… “porque és a minha melhor amiga!” (bem dispensava esta parte…)
Não sabe o que vestir, não sabe onde ir com ele, não sabe se leve o carro, não sabe a que horas se encontrem… Por esta altura desligo o “aparelho auditivo” e limito-me a responder
Será que vale a pena?
Ela diz que sim. Que já conheceu imensa gente assim, que já teve namorados que conheceu na net e que “Quem sabe não encontro o homem da minha vida?”.
Este mundo está mesmo às avessas… não somos capazes de dar os bons dias a vizinho com quem nos cruzamos nas escadas, mas somos capazes de dar voltas e voltas à cabeça por alguém que só conhecemos por fotos, estrategicamente escolhidas para agradar a quem as vê. Já não nos conseguimos relacionar de um modo “normal” com meia dúzia de palavras trocadas num sítio qualquer, frente a frente, ao vivo e a cores.
“Adorei o João… é mesmo kiiiido…”
“Vamos ver quanto tempo dura este…”
“Espero que dure imenso… ele mesmo fofo, meigo, divertido…”
Também eu, Maria! Até porque já começo a ficar farta da tua caça ao namorado perfeito e dos filmes que fazes de cada vez que tentas. Mas vá… se conseguires encontra-lo assim, talvez um dia também tente… ou não.
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